Documento das Turmas de Letras sobre o Colegiado (2010.1)

Paripiranga, 17 de fevereiro de 2010

À coordenação do Colegiado de Letras;

À direção da Faculdade AGES:

Preocupados com a atual situação do Curso de Letras, e os rumos que vem tomando desde que entramos nesta casa, nós, acadêmicos do V período, decidimos tornar públicas nossas preocupações, insatisfações e expectativas, frutos destes dois anos de caminhada e de reflexão.

Gostaríamos de fazer alusão à brilhante história que nosso colegiado construiu, sendo, inclusive o grande destaque desta IES em outros tempos. Por aqui passaram grandes mestres e sem dúvida muitos frutos ainda colhemos desses áureos momentos.

Mas, infelizmente, os tempos são outros. É necessário considerar uma desvalorização profunda e crescente do Curso nesta Academia, uma evasão de seus estudantes – acompanhada de uma visível falta de motivação –, uma falta de especialização de seus mestres e um esvaziamento de sua identidade e de seu sentido.

Para uma análise um pouco mais densa, dividimos nossas percepções do Curso em cinco tópicos:

* “PEDAGOGISMO”

Dez das trinta e nove disciplinas de nossa grade curricular têm um foco eminentemente pedagógico, o que nos parece razoável considerando que nosso Curso é uma Licenciatura; no entanto, essas disciplinas – do modo como estão sendo lecionadas – não dialogam com o foco do nosso Curso – língua, literatura e produção de texto.

Quase sempre tomamos essas disciplinas por empréstimo dos outros cursos e, na integração entre turmas, o foco de discussão é sempre o da Pedagogia ou de qualquer outro curso que esteja conosco. Não há uma devida contextualização, e se alguma relação é apontada, ela é apenas sugerida, raramente trabalhada. Exceção seja feita à disciplina Prática Educativa IV lecionada pela Profª. Gilza A. Cruz, em 2009.2.

Apesar de todas essas disciplinas pedagógicas, notamos uma ausência de um componente essencial: Metodologia da Língua Portuguesa, oferecida somente ao Curso de Pedagogia.

* FALTA DE DENSIDADE CIENTÍFICA E DISCIPLINAR (CURRICULAR)

Nosso currículo não contempla com a devida profundidade aspectos centrais daquilo que dele se espera. Latim não possui professor especializado; Filologia não é devidamente trabalhada; e disciplinas cardeais como Latim, Teoria da Literatura e Linguística possuem uma matriz concisa demais para serem verdadeiramente adensadas. O mesmo pode ser dito das Literaturas.

O modo de trabalhar as disciplinas específicas do Curso também deve ser lembrado, porque muitas vezes há um tratamento filosófico sem a devida fundamentação teórica e sem abordar aspectos científicos que constituem substrato básico da área. Há muita reflexão, mas é necessário que seja acompanhada de sólidas e densas teorizações (sobretudo as já consagradas) e de conhecimentos empíricos relevantes.

Algumas disciplinas estão sendo lecionadas repetindo os focos e conteúdos (bem como competências) de outras disciplinas, a exemplo de Crítica Literária e Teoria da Literatura II. A exaustiva repetição de professores também leva a repetição de práticas e a uma falta de dinamismo.

É necessário também frisar a falta de compromissos de alguns professores, tanto no sentido de inovação quanto para desempenhar funções básicas de ensino-aprendizagem (infidelidade à ementa, não cumprimento de horários, superficialidade teórica, pouca exigência pedagógica, pouca discussão e aprofundamento quanto à produção acadêmica, não adensamento de leituras, etc.).

Não há diálogo também no direcionamento que alguns professores dão à suas disciplinas, de modo que, ao final, há lacunas consideráveis de conteúdos e de competências. As disciplinas de Literatura, por exemplo, são trabalhadas por um professor segundo o foco prosa/poesia (Brasileira I - Poesia), e segundo a divisão linear clássica por outro professor (Brasileira III – Pré-Modernismo e Modernismo).

* FALTA DE ESPECIALIZAÇÃO DOCENTE

Todos os professores do Curso possuem apenas Graduação ou Especialização, e a maior parte dos especializados o são na área pedagógica somente. Isso se reflete na falta de novas discussões e de profundidade que citamos anteriormente, sobretudo devido ao fato de os professores lecionarem disciplinas para as quais não possuem os devidos estudos acadêmicos.

* FALTA DE ACOMPANHAMENTO E DE DIRECIONAMENTO POR PARTE DA COORDENAÇÃO

O Prof. Jaldemir está constantemente ocupado com atividades várias, frequentemente não dispõe de tempo para nos atender e para uma série de rotinas próprias da coordenação, de modo que não há escuta suficiente e atuação efetiva.

Isso tem gerado uma série de problemas, como a ausência de uma devida mediação na resolução de conflitos, e a falta de um acompanhamento eficaz das atividades do Colegiado.

* FALTA DE INCENTIVO INSTITUCIONAL

Esta IES não tem dado visibilidade ao Curso de Letras. Não investe na publicidade do Curso, não promove eventos que o divulguem, nem incentiva seus estudantes à produção científica. Não possuímos uma Semana das Letras, enquanto praticamente todos os demais colegiados possuem suas “Semanas”. Há muito não temos um Simpósio ou Palestra com algum mestre da nossa área de conhecimento. Os poucos eventos existentes são promovidos pelos próprios alunos (Como os Cafés Literários), muitas vezes com inúmeras improvisações, e são muito mais momento de fruição do que de estudo.

Resultado de tudo isso é o ínfimo número de estudantes que entram a cada período e o considerável número de estudantes que migram para outros cursos. E, sobretudo, a caminhada descendente que o Curso vem tendo nas últimas avaliações do MEC.

Enfim, falta atenção, atitude e, principalmente, direcionamento para que o Colegiado possa novamente brilhar nesta Academia.

Desde já nos dispomos para o diálogo e para o trabalho de reconstrução de nossa identidade enquanto Colegiado, porque acreditamos que uma reconstrução é urgente, necessária e possível a partir do diálogo e da boa vontade.

Cordialmente.

(assinaturas dos acadêmicos)